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Qual é o futuro do sexo?

“Para que serve o sexo”? 


Do ponto de vista biológico, há um motivo óbvio para o sexo entre seres humanos. Fazemos sexo porque isso satisfaz nossos impulsos biológicos, incluindo os impulsos necessários para procriar e se relacionar.

O livro bíblico Cântico dos Cânticos de Salomão celebra o sexo apaixonado, erótico e selvagem em seus próprios termos, entre dois amantes – e não entre marido e mulher, como mais tarde os cristãos vieram a interpretar erroneamente o poema.

Outra razão importante para o sexo provém de Aristóteles. Na obra Primeiros Analíticos do século 4 a.C., o filósofo grego apresenta o seguinte silogismo:

“Ser amado, então, é preferível à relação sexual, de acordo com a natureza do desejo erótico. O desejo erótico, então, é mais um desejo de amor do que de relações sexuais. Se é sobretudo por isso, esse também é o seu fim. Ou a relação sexual, então, não é absolutamente um fim ou é para o bem de ser amado.”

Para Aristóteles, “o amor é o propósito do desejo erótico”.

“Não é o amor que visa o sexo como objetivo, é o sexo que tem como objetivo o amor”.

A verdadeira razão pela qual fazemos sexo, de acordo com Aristóteles, não é porque queremos fazer sexo, mas porque queremos amar e ser amados. O sexo é sobre algo superior, algo mais nobre, o sexo não é o objetivo final do desejo erótico.

Se Aristóteles está correto, o sexo não tem propósito erótico – seu verdadeiro objetivo está em outro lugar. Em resumo, não fazemos sexo por causa do sexo propriamente dito.

Por que fazemos sexo então? Para procriar, com certeza. Para se conectar com o outro, também. Mas essas são apenas duas de muitas respostas possíveis. Como muitos fenômenos culturais, o sexo ultrapassa seu porquê.

Talvez seja hora de admitir que o prazer é a principal razão pela qual a maioria de nós – incluindo os mais religiosos – faz sexo.

O comportamento homossexual é bastante comum no reino animal. O macaco-japonês, a mosca-das-frutas, o besouro-castanho, o albatroz-de-laysan, o golfinho-nariz-de-garrafa – são apenas algumas das mais de 500 espécies que desenvolvem relações homossexuais.

Em um mundo em que a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo é amplamente aceita como uma variação natural e saudável da sexualidade humana, não é mais tão importante formar uma identidade pública baseada em práticas sexuais.

Talvez, quanto mais separarmos o sexo do seu propósito, menos gente vai pensar sobre o que o ato sexual pode significar e como pode contribuir para a identidade de um indivíduo.

Como muitas crianças, fui ensinado a julgar a ética sexual sob uma única perspectiva – se a relação sexual tinha acontecido dentro de um relacionamento sério e monogâmico (geralmente, no casamento).

Mas, finalmente, comecei a questionar esse padrão – principalmente porque as mesmas pessoas que me ensinaram isso também me ensinaram que os seres humanos foram criados por Deus alguns milhares de anos atrás.

A maioria dos atos sexuais heterossexuais não resulta no nascimento de um bebê, e, por alguma razão, o sexo sem procriação nunca é classificado como antinatural, da maneira como o sexo homossexual sem procriação costuma ser condenado.

A tecnologia, por meio de aplicativos como o Grindr (plataforma que promove encontros gays), tornou esse padrão excludente ainda mais evidente – nesses aplicativos, os homens são reduzidos a imagens de partes do seu corpo, e os que não são considerados objeto de desejo são rapidamente bloqueados.

Haverá, por exemplo, novos conceitos sobre reprodução. Desde 1978, mais de oito milhões de bebês nasceram por meio de fertilização in vitro. A previsão é que esse número aumente drasticamente à medida que essa tecnologia se torna mais acessível e onipresente.

O controle da natalidade e os métodos contraceptivos também ajudaram a separar o sexo da procriação. Talvez o sexo sirva sempre para algo – mas para alguém, e não para alguma coisa. E seu propósito seja servir às pessoas que fazem sexo por prazer. O significado do sexo não vai existir para além da empatia e o prazer que ele proporciona às pessoas – o prazer da sensação física, do vínculo social, da experimentação. No futuro, o significado do sexo será apenas sexo.

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