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DNA do espermatozóide

Alguns cientistas de Nova Iorque estão testando técnicas ousadas para controle de DNA humano. De acordo com reportagem do site NPR, estes profissionais realizaram experimentos laboratoriais em que foi possível modificar o código genético de espermatozoides, usando a técnica de edição genética CRISPR. Consequentemente, com a edição, essas mudanças podem ser passadas de geração para geração.

A técnica poderia ajudar os médicos a encontrarem novas maneiras de prevenir a infertilidade masculina e a consertar mutações genéticas que causam doenças que os homens transmitem aos filhos. “Alguém que tem uma certa anomalia genética carregada em seu genoma pode removê-la com esse experimento. Teoricamente, em princípio, isso seria um benefício importante para a sociedade”, disse especialista, diretor do laboratório de medicina Weill Cornell, onde esse experimento está sendo conduzido.

Os cientistas aplicam uma corrente elétrica no espermatozoide para afrouxar o DNA e facilitar a edição do código genético original. Isso ocorre dessa maneira porque o material genético está muito bem embalado no núcleo de cada gameta masculino.

O processo ainda está em fase de experimentos e sua eficácia não está comprovada.

É possível herdar traumas dos pais?

Os pesquisadores estavam investigando um tipo de herança muito mais obscuro: como os eventos na vida de uma pessoa podem mudar a forma como seu DNA se expressa e como essa mudança pode ser passada para a geração seguinte.

Este é o processo da epigenética, em que a expressão dos genes é modificada sem alterar o próprio DNA. Pequenas marcas químicas são adicionadas ou removidas de nosso código genético em resposta a mudanças no ambiente em que estamos vivendo.

Essas marcas ativam ou desativam os genes, oferecendo uma maneira de se adaptar às mudanças de condições sem impor uma mudança mais permanente no genoma.

Mas se essas mudanças epigenéticas adquiridas durante a vida pudessem ser transmitidas às gerações futuras, as implicações seriam enormes. Suas experiências durante a sua vida – particularmente as traumáticas – teriam um impacto real em sua família durante as próximas gerações. Há um número crescente de estudos que sustentam esta ideia.

Genética ou epigenética?

Para os prisioneiros nos campos dos Estados Confederados, essas mudanças epigenéticas foram resultado de superlotação extrema, falta de saneamento e desnutrição. Os homens tinham de sobreviver com pequenas rações de milho, e muitos morreram de diarreia e escorbuto.

Especialistas estudaram os registros de saúde de quase 4,6 mil crianças cujos pais eram prisioneiros, comparando-os com os de pouco mais de 15,3 mil filhos de veteranos de guerra que não haviam sido capturados.

Os filhos de prisioneiros tiveram uma taxa de mortalidade 11% maior que os filhos de outros veteranos. Outros fatores, como o status socioeconômico do pai, o trabalho do filho e seu estado civil não poderiam explicar a maior taxa de mortalidade, descobriram os pesquisadores.

Esta maior mortalidade foi principalmente devido a taxas mais elevadas de hemorragia cerebral. Os filhos de prisioneiros também tinham uma probabilidade maior de morrer de câncer. Mas as filhas de prisioneiros pareciam ser imunes a esses efeitos.

Esse padrão incomum por sexo foi uma das razões que levaram Costa a suspeitar que essas diferenças de saúde fossem causadas por mudanças epigenéticas. Mas, primeiro, ela e sua equipe tiveram de descartar que isso fosse um efeito genético.

Este efeito é consistente com estudos em vilarejos remotos da Suécia, onde a escassez de oferta de alimentos teve um efeito geracional na linhagem masculina, mas não na feminina.

Mas e se esse maior risco de morte fosse devido a um legado do trauma do pai que não tivesse nada a ver com o DNA? E se os pais traumatizados fossem mais propensos a cometer violência com seus filhos, levando a consequências para a saúde a longo prazo, com os filhos sofrendo mais disso do que as filhas?

Mais uma vez, comparar a saúde das crianças dentro das famílias ajudou a descartar esta hipótese. Crianças nascidas de homens antes de se tornarem prisioneiros não tiveram um aumento na mortalidade. Mas os filhos dos mesmos homens nascidos após a experiência no campo de prisioneiros, sim.

Acredita-se que guerras, episódios de fomes e genocídios tenham deixado uma marca epigenética nos descendentes daqueles que os sofreram.

O estudo foi pequeno, com apenas 32 sobreviventes do Holocausto e 22 de seus filhos, e um pequeno grupo de controle. Pesquisadores criticaram as conclusões do estudo. Sem olhar para várias gerações e pesquisar mais amplamente o genoma, não se pode ter certeza de que é realmente uma herança epigenética.

Como isso pode mudar a forma como vivemos?

As consequências de transmitir os efeitos de um trauma podem ser enormes, mesmo que haja alterações sutis entre as gerações. Isso mudaria a forma como vemos nossas vidas no contexto da experiência de nossos pais, influenciando nossa fisiologia e até mesmo nossa saúde mental.

E saber que as consequências de nossas próprias ações e experiências podem afetar a vida de nossos filhos – mesmo antes que pudessem ser concebidos – pode mudar como escolhemos viver. Mas há um grande obstáculo com a pesquisa sobre a herança epigenética: ninguém sabe ao certo como isso acontece. Alguns cientistas pensam que, na verdade, é um evento muito raro.

Uma das razões pela qual isso pode não ser comum é que a maior parte de um tipo de marca epigenética no DNA, a adição de um aglomerado de substâncias químicas conhecidas como metilação é zerada desde o início da vida, e o processo de adição destes compostos químicos ao DNA começam quase do zero.

Existem, no entanto, partes do genoma que não são zeradas. Um processo protege a metilação em pontos específicos do genoma. Mas esses locais não são aqueles onde as mudanças epigenéticas relevantes para o trauma são encontradas.

A ciência da herança epigenética sobre os efeitos do trauma ainda é jovem, o que significa que ainda está gerando um debate acalorado. Para Yehuda, que fez um trabalho pioneiro sobre transtorno de estresse pós-traumático (EPT) na década de 1990, isso vem com uma sensação de déjà vu.

Quase 30 anos depois, o transtorno do estresse pós-traumático é uma condição médica amplamente aceita que explica por que o legado do trauma pode se estender por décadas na vida de uma pessoa.

Usando seus experimentos de flor de cerejeira em camundongos, ele testou o que aconteceria se os machos que temiam o cheiro fossem, depois, insensíveis ao cheiro. Os ratos foram repetidamente expostos ao aroma sem receber um choque.

Ao analisar o esperma, notou que foi perdida a assinatura epigenética “temerosa” característica após o processo de dessensibilização. Os filhotes desses ratos também não demonstraram mais a sensibilidade aumentada ao aroma. Então, se um rato “desaprende” a associação entre um perfume e a dor, a próxima geração pode escapar destes efeitos.

Isso também sugere que, se os seres humanos herdam um trauma de forma semelhante, o efeito em nosso DNA pode ser desfeito usando técnicas como a terapia comportamental cognitiva.

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