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Criado primeiro ser híbrido de humano e macaco

Pesquisadores conseguiram criar pela primeira vez uma quimera um ser híbrido entre humano e macaco num laboratório da China, dando um importante passo para seu objetivo final de transformar animais de outras espécies em fábricas de órgãos para transplantes, segundo confirma ao EL PAÍS colaboradora bióloga da pesquisa na Universidade Católica de Murcia (UCAM).

Os grupos distribuídos entre o Instituto Salk dos EUA e a UCAM, modificaram geneticamente os embriões de macaco para desativar genes essenciais na formação de seus órgãos. Em seguida, os cientistas injetaram células humanas capazes de gerar qualquer tipo de tecido. O resultado é uma quimera de macaco com células humanas, que não chegou a nascer, já que os pesquisadores interromperam a gestação. O experimento foi realizado na China para evitar obstáculos legais em outros países.

Os autores não deram mais detalhes porque estão à espera de publicá-los em uma prestigiosa revista científica internacional. Na UCAM e no Instituto Salk, já não estamos buscando só avançar e continuar fazendo experimentos com células humanas e de roedores e porcos, mas também com primatas não humanos, acrescentando que a Espanha é pioneira e líder mundial nesse tipo de pesquisas.

Pesquisadores recordam que sua equipe já fez em 2017, o primeiro experimento do mundo de quimeras entre humanos e porcos, embora com menos sucesso. As células humanas não pegaram. Vimos que contribuíam muito pouco para o desenvolvimento do embrião, uma célula humana para cada 100.000 de porco, explica pesquisador da Universidade da Califórnia em Davis e coautor daquele experimento.

A equipe de pesquisadores já haviam conseguido, porém, criar quimeras entre espécies mais semelhantes entre si, como o camundongo e o rato, cujo grau de semelhança é cinco vezes maior que entre humanos e porcos. Também em 2017, os pesquisadores utilizaram a revolucionária técnica de edição genética CRISPR para desativar genes de embriões de camundongo que são fundamentais para o desenvolvimento do coração, olhos e pâncreas. Então, introduziram células-tronco de rato, capazes de gerar esses órgãos. O resultado foi uma série de embriões-quimera de rato e camundongo, cuja gestação também foi abortada pelos pesquisadores, seguindo o consenso internacional sobre experimentos desse tipo.

Para evitar esses entraves éticos, conforme relata pesquisador, a comunidade científica tradicionalmente estabeleceu “uma linha vermelha de 14 dias” de gestação, tempo insuficiente para que se desenvolva o sistema nervoso central humano. Antes desses 14 dias, os embriões quiméricos são eliminados. A gestação não é levada a termo em nenhuma hipótese. Em todo caso muito longínqua de transformar animais em chocadeiras de órgãos para os humanos, mas considerando que essas pesquisas serão realmente muito úteis para obter modelos nos quais estudar o desenvolvimento embrionário e algumas doenças humanas.

A primeira equipe científica a criar quimeras de rato e camundongo, em 2010, foi a do biólogo japonês Hiromitsu Nakauchi, da Universidade de Stanford (EUA). Em 2017, sua equipe gerou pâncreas de camundongo dentro de ratos e demonstrou que essas células revertiam o diabetes ao serem transplantadas de novo para ratos com essa doença. Pesquisador recorda que os Institutos Nacionais da Saúde dos EUA, principais financiadores da ciência biomédica no mundo “não apoiam a pesquisa de quimeras humano-animais, mas há outras agências de financiamento, como o Departamento de Defesa e o Instituto de Medicina Regenerativa da Califórnia, que respaldam esses estudos”.

Em 2017 foi feito o primeiro experimento de quimeras do mundo entre humanos e porcos.

Na Espanha, este tipo de ensaio é muito restrito e limitado apenas a investigações de doenças fatais. Estão fazendo experimentos com macacos na China porque, em princípio, eles não podem ser feitos na Espanha, que não dá importância ao fato de sua universidade ser católica. O que querem, é progredir para o benefício das pessoas que têm uma doença. Pedir permissões está dentro da nossa ética.

Como observa pesquisadores, o pâncreas de camundongos gerados dentro de ratos ainda tem células dos próprios ratos em estruturas como os vasos sanguíneos, um possível motivo para a rejeição em caso de transplante. O objetivo final seria obter um órgão humano que possa ser transplantado, mas, para os cientistas que vivem este momento, o caminho em si é quase o mais interessante. É nessas experiências que você realmente aprende a biologia do desenvolvimento do que você está estudando.

Os experimentos com quimeras trazem o risco de que se formem neurônios humanos no cérebro dos animais

A ciência não é algo em que se possa colocar portas. Os caminhos da ciência levam a ramificações que você nunca teria imaginado. Apesar de que talvez não consigamos chegar a obter órgãos para transplantes, se não passássemos por aqui não haveria um avanço na ciência. Outros cientistas, estão explorando outras vias, com um objetivo semelhante: resolver a escassez de órgãos transplantáveis. Quase todos os mamíferos têm no seu DNA vírus que passam de pais para filhos. No caso dos porcos, estes vírus incorporados ao genoma podem infectar células humanas.

Humanizaram o porco por meio da engenharia genética que no ano passado uma equipe da Universidade de Munique conseguiram que dois macacos sobrevivessem por mais de seis meses com corações de porcos transplantados. “Não vejo por que não seja possível fazer engenharia para tornar mais compatível o desenvolvimento de tecidos humanos em porcos”, argumenta o pesquisador.

A história nos mostra repetidas vezes que, com o tempo, nossos parâmetros éticos e morais mudam e se transformam, como o nosso DNA, e o que ontem era eticamente inaceitável, se isso realmente significar um avanço para o progresso da humanidade, hoje já é parte essencial de nossas vidas.

Com o tempo precisaremos levar as gestações a termo

Pesquisador pioneiro em 2010 da geração de quimeras entre camundongo e rato, acredita que em algum momento teremos que pular as linhas vermelhas que existiram até agora, como a interrupção da gravidez. Até agora, as células humanas não sobreviveram em embriões de animais. No entanto, o objetivo da pesquisa é fazer com que células humanas sobrevivam e contribuam para a formação de quimeras. Portanto, o tempo que precisar para levar as gestações a termo. Em março, o Japão mudou a lei que proibia esse tipo de experimentos para além do 14º dia de gestação e que também vetava a transferência de embriões para o útero de uma fêmea animal, de acordo com a revista científica Nature. A mudança de critérios do Governo japonês significa dar luz verde ao nascimento de animais com células humanas.

 

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